Gilmore Moms | O que Bluey me ensinou sobre ser mãe
O desenho que fala a língua das crianças e ensina os adultos
Leia ouvindo: Grow As We Go" — Ben Platt
Olá, pessoas do outro lado da tela! Tudo bem?
Eu sempre dizia a mim mesma: “a Rebecca só vai assistir televisão depois dos 2 anos”. Era uma daquelas promessas que a gente faz cheia de boas intenções, quando ainda está só planejando o tipo de mãe que quer ser.
Mas a vida — como sempre — teve outros planos.
Com 1 ano e 4 ou 5 meses, a Rebecca conheceu um desenho australiano chamado Bluey. E foi quase como um pequeno milagre em um dia ordinário: num dia em que meu esposo precisava participar urgentemente de uma reunião de trabalho, sozinho em casa com a pitica, colocou um episódio para tentar distrair ela por alguns minutos. De repente, a casa ficou em silêncio. Um silêncio bom, curioso, em que a Rebecca assistia concentrada, encantada, sem precisar de sons explosivos ou de imagens piscando sem parar.
Bluey nos conquistou. Primeiro a Rebecca. Depois nós. Depois a família toda.
Com um ritmo leve, histórias que falam sobre o cotidiano e personagens que são praticamente gente como a gente, Bluey virou o nosso desenho favorito. Um lugar seguro onde a infância é respeitada, a imaginação é celebrada e, de alguma forma, nós adultos também somos convidados a reaprender um pouco sobre o que realmente importa. Claro, não estou aqui dizendo que o desenho é perfeito, mas se você que é mãe/pai ou convive com crianças, deve saber o quão difícil é achar desenhos de baixo estímulos, que trabalha a imaginação e que não ensina crianças a serem mal educadas.
E, hoje, quero compartilhar com você duas histórias desse desenho que tocaram profundamente meu coração de mãe. Dois episódios que, toda vez que assisto, me lembram que a maternidade não é sobre perfeição, mas sobre amor e presença.
A corrida de cada um
Episódio: “Corrida de bebês” (Temporada 2, episódio 50)
Um dos episódios que mais me marcou foi “Corrida de bebês”. Nele, a Chilli — mãe da Bluey — relembra o tempo em que a filha estava começando a dar seus primeiros passos. No começo, tudo parecia tranquilo, até que ela começou a se comparar com outras mães: “Por que a filha da amiga já estava sentando e a sua ainda não?” ou “Por que outra já estava engatinhando, enquanto a sua parecia atrasada?”.
A Chilli tenta de tudo para “acelerar” o desenvolvimento da Bluey, como se existisse uma linha de chegada a ser alcançada. E quando vê que não consegue, sente que talvez esteja falhando como mãe. É então que uma amiga mais experiente lhe oferece um dos conselhos mais bonitos que já ouvi — e que carrego comigo desde então:
“Você está indo muito bem”. O mais louco de tudo isso é que a mãe que deu o conselho já tinha uns 8/9 filhos e sabia do que estava falando.
Esse episódio é uma verdadeira aula sobre expectativas e amor. Ele me lembrou que cada criança tem seu próprio ritmo, sua própria corrida — e que nosso papel como mães não é apressá-los, nem medir suas conquistas pela régua dos outros, mas simplesmente caminhar ao lado deles, celebrando cada pequena vitória no tempo certo.
Assistindo ao episódio, Corrida de bebês, me peguei lembrando de quantas vezes eu mesma me cobrei. A Rebecca engatinhou com 8 meses e andou com 1 ano e 2 meses. Enquanto isso, a filha de uma amiga já engatinhava com 6 meses e, com 9 meses, já estava andando firme pela casa. Meu Deus, só de lembrar me dá vontade de chorar.
Não porque a Rebecca tenha feito algo de errado — pelo contrário, ela estava perfeita no seu ritmo. Mas, porque eu, mesmo sabendo de tudo que se fala sobre respeitar o tempo de cada criança, me vi colocando uma expectativa tão alta sobre um pequeno ser humano que mal havia começado a viver.
Por quê?
Por que fazemos isso?
Por que colocamos sobre ombros tão pequeninos o peso de marcos e comparações?
É como se, sem perceber, esquecêssemos que viver já é, por si só, o maior feito de todos.
Corrida de bebês me ensinou a ser mais gentil — não só com a minha filha, mas comigo também. A lembrar que a infância não é uma corrida de chegada.
É um caminho de descobertas, onde o que importa mesmo é estar presente, de mãos dadas, com o coração aberto. É um caminho único, cheio de tropeços, aprendizados e pequenos milagres diários.
Liberdade na bagunça
Episódio: “Sujeira” (Temporada 3, episódio 36)
Outro episódio que me tocou profundamente foi “Sujeira”. Nessa história, vemos a Judo, uma amiguinha da Bluey, querendo brincar no monte de terra que o Bandit — pai da Bluey — trouxe para o quintal. Mas há um dilema: Judo tem um pelo muito bonito, longo, que sua mãe, Wendy, cuida com todo carinho — e brincar na terra significaria se sujar inteira. No começo, Wendy tenta proteger esse cuidado, sugerindo que seria melhor a filha não se envolver tanto na bagunça. E Judo, querendo agradar, tenta se segurar.
Só que existe algo mais forte: o desejo de fazer parte, de brincar, de viver a infância sem reservas. E ali, naquele instante silencioso, Wendy percebe. Ela vê sua filha tentando se conter para não decepcioná-la e entende: talvez cuidar também seja permitir. Permitir que se sujem, que façam bagunça, que se entreguem de corpo e alma às aventuras da infância — mesmo que depois seja preciso um bom banho e horas escovando aquele pelo.
Foi impossível não trazer essa história para dentro do meu próprio coração de mãe.
Quantas vezes, querendo proteger, acabamos limitando? Quantas vezes, com o desejo sincero de evitar dificuldades ou de preservar o que é bonito, esquecemos que a beleza mais verdadeira está justamente em permitir que eles se sujem?
Essa lição ficou ainda mais viva para mim no dia em que visitei a escola onde a Rebecca estuda hoje, uma escola montessoriana. Durante a visita, conversando com a coordenadora, comentei — quase como quem se desculpa — que achava que a Rebecca talvez tivesse medo de se aventurar em certos brinquedos, e que eu até ficava aliviada por isso. Foi então que, diante dos meus olhos, a Rebecca decidiu subir e descer sozinha um brinquedo que parecia difícil para a sua idade — e fez isso na maior tranquilidade, sem medo, sem hesitação.
A coordenadora sorriu e me disse com uma calma que eu nunca esqueci:
“Às vezes, nem é falta de coragem. É a falta de liberdade que damos a eles.”
Naquele momento, entendi. Entendi que, muitas vezes, eu subestimava a minha filha.
Que o meu papel não era apenas protegê-la, mas incentivá-la, mostrando que eu confiava nela, no seu potencial, no seu instinto de descoberta.
Assistindo o episódio Sujeira, percebi que educar não é construir vitrines perfeitas. É permitir que nossos filhos vivam de verdade — ainda que isso signifique roupas manchadas, rostos sujos e alguns joelhos ralados.
E, no final, não é isso que a gente mais deseja?
Que eles sejam felizes, inteiros, livres para viver?
Um desenho que é muito mais do que entretenimento
Hoje eu entendo por que Bluey é um dos poucos desenhos infantis recomendados por muitos psicólogos. Com histórias simples e genuínas, ele ensina sobre empatia, autonomia, limites, vínculos familiares e a beleza de crescer — respeitando o tempo e a individualidade de cada criança. Não é exagero dizer que eu poderia passar horas aqui compartilhando episódios que mexeram comigo, que me fizeram rir, chorar e, principalmente, refletir sobre o tipo de mãe que eu quero ser.
Enquanto escrevia este texto, percebi o quanto essas pequenas histórias tocaram pontos profundos dentro de mim. Corrida de bebês me lembrou que cada criança tem seu próprio ritmo, e que o amor mora na caminhada paciente ao lado delas — não na pressa de vê-las vencer marcos antes da hora. Sujeira me ensinou que proteger também é confiar, e que liberdade é uma forma poderosa de amor: permitir que nossos filhos experimentem a vida, se sujem, se arrisquem, e descubram que podem mais do que imaginam.
No fim das contas, ser mãe tem muito a ver com isso: é amar o bastante para acolher, mas também para soltar a mão.
E se até um desenho pode nos ensinar tanto sobre a vida, talvez o segredo esteja justamente aí:
Nos momentos pequenos.
Nas histórias simples.
Na coragem de reaprender a olhar o mundo com os olhos de uma criança.
Até a próxima página,
Ana.
Eu sou obcecada por bluey! Até mais que a minha filha! 🫣
Adorei o texto!
Que texto maravilhoso! O paralelo com a nossa primeira visita a escola dela foi a cereja do bolo, perfeito!