Sessão Pipoca | O Fim de 'Bom Dia, Verônica' e Succession
Reflexões sobre a importância do Storytelling na Indústria Cinematográfica
ATENÇÃO: o texto contém spoilers. Se você ainda não assistiu, não continue lendo.
Olá, pessoa do outro lado da tela! Tudo bem?
Hoje, gostaria de compartilhar algumas reflexões inspiradas pelo recente desfecho da série brasileira “Bom Dia, Verônica”, inspirada no livro de Ilana Casoy e Raphael Montes. Ah, antes de começar, gostaria de mencionar que o texto de hoje foi feito com a ajuda do meu maridão, um grande cinéfilo que me ensinou e continua a ensinar sobre o mundo do cinema.
Depois dessa news, talvez você passe a me odiar ao ponto de pegar uma foto minha, pendurar na parede da sua sala, desenhar um bigode e jogar dardos nela ou talvez você me ame ainda mais. Pois bem, ao terminar de assistir “Bom Dia, Verônica”, tive um sentimento estranho. Por um lado, aprecio a tentativa da série de abordar questões importantes e urgentes, como violência contra a mulher e corrupção. Por outro lado, em vários momentos, me vi revirando os olhos diante de cenas bobas e previsíveis.
É justamente essa dualidade que me leva a refletir sobre a importância do storytelling na indústria cinematográfica. Enquanto “Bom Dia, Verônica” tenta mergulhar em temas relevantes, parece que o enredo muitas vezes cai em armadilhas narrativas comuns, prejudicando a experiência do espectador. Isso me faz pensar que a Netflix é uma empresa que preza muito mais pela quantidade do que pela qualidade. E, de forma protocolar, trazem um catálogo mamão com açúcar todo ano porque sabem que gera dinheiro e engajamento.
Além disso, algo que me chamou a atenção, é que quase não vi ninguém falar o quanto essa última temporada decepcionou. A série não soube desenvolver bem o enredo que ela quis expandir a partir do livro. O livro, por exemplo, só conta a história do Brandão (Eduardo Moscovis) e da Janete (Camila Morgado) — que por sinal, que baita atuação esses dois deram na primeira temporada. Quando chegamos nas temporadas posteriores, as histórias começam a ter muitos buracos e inconsistências. Isso me deixou frustrada (?). Assisti a série com meu esposo, então achamos que a série seguiria o mesmo seguimento, mas só vai por água abaixo.
Colocando as cartas na mesa
Na minha concepção, que não sou psicóloga, apenas esqui.. Brincadeira! Agora é sério, na minha opinião, os roteiristas tentaram escrever a Verônica (Tainá Müller) como uma mulher emancipada, forte e libertadora de mulheres, mas falharam miseravelmente nisso. Um paralelo com isso é a Shiv Roy, da série Succession, que tem convicções parecidas, porém, ela é bem escrita. Vamos falar sobre Succession mais para frente. Os roteiristas têm vários problemas em tentar trabalhar o arquétipo da Verônica, pois aparentemente, querem que a gente crie uma empatia com ela, mas a personagem não tem racionalidade nas ações que toma, o que torna a aversão mais influente.
Outra coisa que me incomodou bastante foi a exposição. O vilão conta o que está acontecendo mesmo sabendo que o outro personagem já sabe, mas a série faz isso para o público saber, perdendo a oportunidade de mostrar de forma orgânica. Fora a temporada que foi muito corrida, todos os acontecimentos foram rápidos demais e muito atropelados. Alguns erros de continuidade deixaram a série bem amadora, o que foi embaraçoso já que ela é considerada uma das melhores produções nacionais da Netflix.
Pensa comigo, no primeiro episódio, a Verônica, perseguida por caras grandes, fugindo a todo custo, mudando de aparência e por aí vai, confia no primeiro cara que “ajuda” ela na igreja. Não é possível que uma personagem descrita como forte, independente e inteligente não perceba que tem alguma coisa estranha. Quando ela vai até a casa do Jerônimo (Rodrigo Santoro), ela não acha esquisito as funcionárias daquele local? Fora que todo o esquema nasceu naquela cidade, então ela deveria desconfiar de tudo e todos.
E por que falar de Succession?
É aqui que entra o contraponto perfeito: “Succession”. Esta série brilhantemente escrita e executada é um exemplo notável de como o investimento em roteiristas talentosos e uma narrativa bem elaborada pode elevar uma produção ao status de obra-prima. Em “Succession”, cada diálogo, cada reviravolta é meticulosamente planejado para manter o espectador cativado, sem nunca comprometer a complexidade dos personagens ou os temas abordados. Não só isso, também não deixar pontas soltas.
Ao comparar “Bom Dia, Verônica” com “Succession”, somos confrontados com a realidade de que a indústria cinematográfica muitas vezes opta pelo caminho mais fácil, em vez de investir no desenvolvimento de uma narrativa genuína e impactante. E isso não é apenas uma perda para os espectadores, mas também para a arte do cinema como um todo.
Portanto, enquanto nos despedimos de “Bom Dia, Verônica”, é hora de refletir sobre o que podemos aprender com essa experiência e como podemos pressionar por uma indústria cinematográfica que priorize a qualidade do storytelling acima de tudo.
O que vocês acham? Compartilhem suas opiniões nos comentários 🎞.
📌Aquele em que eu recomendo…
Hoje eu vou indicar um canal que corresponde o assunto de hoje na news. É o canal do Jurandir Gouveia, simplesmente o maior canal de Storytelling do Brasil. Vale muito a pena dar uma olhada em seus vídeos.
Até a próxima página,
Ana.
Excelente análise, Ana! Não assisti a "Bom Dia, Verônica", mas assisti "Sucession" e entendi perfeitamente seus pontos, pois são recorrentes, não apenas, mas mais frequentemente em obras nacionais. Tenho falado sobre esses problemas em meu canal e fico feliz por seu esposo ter te recomendado! Obrigado pelo compartilhamento e apoio. Um forte abraço.
Jurandir, fico muito feliz e grata por ter recebido um reconhecimento seu, principalmente porque estou iniciando o meu caminho como escritora e o seu canal tem me ajudado bastante. O meu esposo é muito fã do seu trabalho (assiste seus vídeos quase todos os dias) e comentou comigo sobre essas questões a respeito do cinema brasileiro. E, desde que assistimos “Bom dia, Verônica”, isso ficou muito latente. Mais uma vez, muito obrigada!